sábado, setembro 22, 2012

Essa coisa toda minha

Todas as cartas são minhas. Todas as cartas escritas para meus amores perdidos ou achados, são para mim. De um jeito ou de outro, revelam o que sinto, o que fomos, como sinto, como fomos. Não sei se revelam a verdade dos fatos. Ou se destoam dos fatos. Se são a minha particular visão dos acontecidos, dos ditos, dos feitos, dos sonhos ou dos surtos. Mas hoje essa é especial. Quero escrever pra mim. Quero me ler depois. Como faço com as demais, essa vai ser lida e destinada para mim. Pra daqui a quinhentos anos, e os exageros à parte, eu voltar aqui, nesse canto adormecido da net, para lê-la novamente e me perceber nas perfeitas linhas do teclado. Ou para me encontrar nas infantis traçadas do meu coração.
Queria ser entendida por ele. Queria ser conquistada por ele. Queria que ele corresse atrás de mim. Que me convencesse da nossa necessária união. Queria ser pedida em casamento por ele. Antes, em namoro, depois em noivado e por fim em casamento. Tudo como manda o social e o figurino. Tudo como se fosse no cinema, com script, ensaio, música de fundo, uma flor na mão, um desejo no olhar, e palavras doces na boca. Queria também que tudo fosse verdade. Que nada fosse maquiagem ou fingimento, desses subterfúgios que vez ou outra usamos para atrair, seduzir, encantar, enveredar em nossa teia de vaidades e caprichos vãos. Queria ainda que ele lutasse por mim. Brigasse por mim.
Queria muito que conhecesse a minha família e por ela se apaixonasse. Que festejasse as nossas datas como se fossem mais especiais que a páscoa, o natal, o ano novo, o dia dos pais ou o dia das mães. Queria, na mesma intensidade, que ele me apresentasse aos seus pais, a sua vida em família, suas fotos da infância, seus sonhos de menino, o que aprontou, com quem mais brincava. Queria conhecer seus medos. Queria encorajá-lo a enfrentar seus piores pesadelos.
Ah, como eu gostaria de ser cortejada por ele, talvez num bar desconhecido, ou muito frequentado, ou num lugar completamente longe de casa, ou mesmo na esquina de casa. Queria que ele me tirasse pra dançar e me olhasse nos olhos, no meio do salão, e nesse exato momento todos os presentes desapareceriam. Todos seriam eliminados, mas só de mentirinha, porque seriam importantes testemunhas do nosso amor, da nossa paixão.
Confesso que nunca sonhei, muito menos desejei aquele horror de gastos e especulações do evento pomposo que é um casamento na igreja, com direito a vestido de noiva, padrinhos, altar, flores e um "juiz" poderoso autorizando o famoso jargão "agora pode beijar a noiva". Verdade, contraditoriamente, que estive em muitos, inclusive como madrinha, e chorei um bocado, me emocionei demasiadamente, como se aquelas cenas fossem as derradeiras e mais importantes histórias de amor sendo concretizadas a partir do SIM. Mas, mesmo assim, com essa confissão óbvia, não, eu juro que não idealizei nem busquei realizar esse ritual em nenhum momento de minha vida. Mas é certo que me vejo pós-evento, sem nunca ter ocorrido, bem casadíssima, cuidando de um lar doce lar, com um marido fofo ao meu lado, fazendo comidinhas, assistindo filminhos, discutindo coisas sérias, rindo de nossas bobagens, estabelecendo códigos secretos aos ouvidos externos, fazendo planos a dois, quem sabe a três. Vejo até um cachorro balançando seu rabinho de felicidade por morar conosco nesse lugar encantado de um casal apaixonado. Sim, é isso mesmo. Não quero te assustar, muito menos provocar sua fuga, pra longe de mim. Mas é preciso que saiba: eu gostaria de viver ao seu lado, para sempre. Com ou sem filhos, mas embalando projetos, viagens, enredos, poesias, canções. Degustar vinhos em taças gigantes.
Se quer mesmo saber, não, eu não sei se estou apaixonada por você. Ou se apaixonada pela ideia de que com você, poderia ser possível viver [de verdade] um lindo conto de amor. Só sei que quando estamos juntos, ou apenas quando conversamos, sinto que isso poderia ser sempre deliciosamente repetido, de tão prazeroso que é.
Nós somos almas gêmeas? Nos completamos? O que somos? Ai, eu não sei. Não me pergunte coisas difíceis ou talvez sem importância. Sei que me faz um bem danado e sei que posso te fazer um bem danado. Não é à toa que perco e ganho, e amo perder e ganhar o meu tempo com você. É uma delícia.
Enfim, eu queria que soubesse disso tudo, e que essa carta, insisto, não é pra você. É para mim, afinal é sobre mim. Sobre as minhas demandas, sobre os meus desejos. Mas é certo que você faz parte de mim, das minhas demandas, dos meus desejos.
Queria, acima de tudo, ter uma chance com você. Não dessas que temos tido, com encontros casuais e tão esporádicos. Morando longe ou perto, preciso que saiba que eu queria muito ser a sua namorada. Daí me dou conta de Vinícius de Moraes, até poderia ser 'usado' por você, para quem sabe, ser a sua forma de me pedir em namoro... que boba eu sou, eu sei. Você não me pediria em namoro. Me roubaria outro beijo, e isso já seria o suficiente. Ainda assim, veja e escute o vídeo abaixo, com o coração.

      
      

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